Os amantes da moda são uma espécie curiosa e querem atuar de forma responsável.

São bem informados e apostam por uma forma mais inteligente de consumir.

(A Compra Inteligente, escrito por Ana Carolina de O. Dias, editorial Brazil com z, 2010.)

 

          Há informações que chegam ao consumidor – interessado nos pormenores de um produto – normalmente ligadas ao design. Mas além do design e do preço accessível está o impacto ambiental. Se Anna Wintour, editora da Vogue americana, 2009, em uma entrevista para o Wall Street Journal, disse que os consumidores já não compram da mesma forma e começam a apostar em roupas que tenham maior durabilidade, imaginem agora. O consumidor inteligente não quer apenas “consumir”, mas fazer uma compra com uma certa visão global. Talvez esse consumidor não queira saber exatamente se uma determinada marca investe em baixa produção de carbono, se os tecidos utilizados na roupa que ele adquire são oriundos de fábricas que utilizam a energia limpa para esquentar suas máquinas… mas, na maioria dos casos, vai gostar de saber.

          Eco friendly, recycling, upcycling… é certo que haja também um certo “modismo”, e algumas marcas, no intuito de vender mais e estimulando o consumo exagerado, tiram partido da “eco-adoção”, já que se alastram de forma meteórica as noticias sobre extinção, escassez de recursos, “há falta de”…e é difícil não ficar atualizado.  Uma roupa de algodão gasta litros e litros de agua, sem falar (em linhas gerais) no danos de pós produção à terra onde foi plantado. Mas a questão não é somente utilizar os recursos naturais, porém pensar na forma em como se produzem. O algodão orgânico, ou as fibras de bananeira e até a fibra do abacaxi (nominada Piñatex)  – recentemente utilizada na produção de bolsas –  todos productos ecologicamente corretos. Nessa produção se inclui a moda ética no sentido integral e vai além do bio-sustentável. 

          A concientização chegou a mobilizar marcas e estilistas, desde os mais emergentes aos mais famosos. Os óculos produzidos pela Gucci, com as estruturas feitas de material das telas de tv, são um exemplo disso. Também Ermenegildo Zegna , Stella McCartney e Vivienne Westwood dedicam esse feito às suas criações. Vivienne, considerada como principal responsável pela estética associada com o punk e o New Wave, levou o Fashion Ethical Project às passarelas. Integrou o projeto da ONU que objetiva mudar o modelo de produção da moda internacional, no intuito de capacitar as mulheres com a criação de postos de trabalho. A iniciativa de cultivar as habilidades de artesãs que queiram aprender um ofício e ser remuneradas para isso. Atualmente apoiam a 7.000 mulheres e entre seus socios se incluem a cidades como Roma, Rio de Janeiro e Tokio com uma proposta 100% ética e responsável com o meio-ambiente. Uma das coisas que mais me chamou atenção foi o fato do director de arte de Vivienne dizer: “Não estamos aqui para fazer caridade, estamos aqui para produzir com mão-de-obra local”.

(Clique na imagem e assista o vídeo)

vivienne westwood

          Verdadeiros feitos têm sido explorados por designers de todo o mundo, que não produzem roupa ao estilo “fast fashion”, de mão-de-obra barata e com materiais contaminantes, faz tempo. (exemplos de algumas marcas no final deste artigo*). Mas a catástrofe da moda em Bangladesh em 2011, que envolveu o maior acidente têxtil já conhecido, chocou também esses designers que unidos a associações e instituições de moda resolveram entrar com uma ação mais radical.* Anualmente, em varios países, se homenageiam as vítimas do sinistro de modo a conscientizar o mundo sobre o consumo ético, chamando à responsabilidade social, utilizando a frase Quem fez suas roupas? (“Who made your clothes?) como slogan. Está bem que o efêmero é próprio da moda, que ganha “sentido” quando algo que sai dos “padrões” é descartado e logo entra o novo e assim a moda ganha novos ciclos, novas formas.  O problema é o que

Piles of Mutilated Hosiery, Haryana, India

Foto em exibição em Hamburgo (Tim Mitchell, Clothing Recycled, 2005, © Tim Mitchell)

gera esse tipo acelerado de produção, que anda mais rápido que a ética e produz uma quantidade inenarrável de lixo textil – inclusive tema de exposição na Alemanha (foto acima), aletando sobre o impacto ambiental, econômico e social.

          Todo esse processo é parte da construção de uma espécie “cultura sustentável” e deve funcionar como um exercício para a imaginação, de modo a buscar idéias, soluções – a exemplo dos artesãos do Quênia, que transformaram as sandálias jogadas ao mar em lindos brinquedos (http://greensavers.sapo.pt/2013/06/17/chinelos-descartados-na-praia-tornam-se-brinquedos-no-quenia-com-fotos/) – de quem cria e produz, e também para quem consome moda ou arte. E ainda que não seja necessário lembrar que o conceito de beleza na imaginação do designer,  ou aos diversos conceitos a que se propõe, deve estar presente, a todo momento, como condição sine qua non, a “beleza” a 100%, do início ao fim da construção de un produto, também. Uma última questão:

Seguiremos enchendo nosso armário com roupa procedente de mão-de-obra mal remunerada, com materiais contaminantes ?

…e ainda, pra finalizar, uma outra pergunta:

Quem fez suas roupas?

Lorena Sender

*Links relacionados:

http://fashionrevolution.org/ , http://reviewslowlifestyle.com.br/,

http://www.modasosteniblebcn.org/http://www.coopa-roca.org.br/quem_somos.asp,

http://www.overmundo.com.br/agenda/costurando-ideais-comunidade-do-santa-marta-rj,

http://tanianeiva.com.br/2013/05/15/estilistas-pioneiros-na-moda-sustentavel-stella-mccartney/

para mais notícias:

http://ffw.com.br/noticias/moda/made-in-quenia-estilistas-apostam-em-producao-no-pais-africano/